Aracaju, 20 de outubro de 2025
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TENENTE DO CORPO DE BOMBEIROS RELEMBRA MOMENTOS DE COMOÇÃO NO RESGATE DO ATOR DOMINGOS MONTAGNER

CAPA HERÓIS HORIZONTAL SINÉRIO

No dia 15 de setembro de 2016, o destino reservou ao tenente do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe, Sinério dos Santos, uma missão que marcaria sua vida para sempre. A tragédia que vitimou o ator Domingos Montagner, no rio São Francisco, comoveu o Brasil e revelou o lado humano e sensível de quem enfrenta, diariamente, os desafios de salvar vidas – mesmo quando já não há vida a ser salva. Os detalhes desta missão são contados agora na série ‘Heróis Anônimos da Segurança Pública’.

Sinério estava em casa, no sexto dia de folga após retornar da Força Nacional, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, o comandante-geral da época, coronel Doria, trouxe a notícia que o faria reviver a incredulidade de quem já havia assistido tantas vezes à morte nas telas. “Aconteceu um sinistro com o ator Domingos Montagner. Precisamos de você”. A princípio, Sinério achou que fosse um mal-entendido, talvez mais um capítulo de ficção, mas logo a gravidade da situação ficou evidente.

No quartel, tudo se moveu com rapidez. Equipamentos foram separados, uma viatura do bombeiro o pegou em casa e o deslocamento foi feito pelo helicóptero do Grupamento Tático Aéreo (GTA) que seguiu para o local da tragédia, em Canindé de São Francisco. Ali, no coração do rio que tanto encantou o Brasil na novela Velho Chico, começava uma busca que exigiria muito mais do que preparo técnico – seria preciso confiar na intuição, nas águas e em algo maior.

“Quando mergulhamos à noite, muitos diziam que não encontraríamos nada. Outros já haviam tentado durante o dia e não tiveram sucesso. Mas eu disse: ‘Vamos seguir a minha intuição.’ Dei 20 metros de cabo e me deixei levar pela corrente”, relembrou o tenente. Em um misto de tensão e silêncio, após 25 minutos de mergulho, o toque entre pedras revelou o que buscavam: o corpo de Domingos Montagner, repousando em um recanto do rio.

Apesar da tragédia, Sinério recorda um momento singular ao encontrar o ator. “Quando virei o corpo, vi um sorriso no rosto dele. Parecia estar em paz. Aquela imagem ficou gravada na minha memória”, rememorou.

O resgate foi desafiador. As fortes correntes, os redemoinhos e o peso emocional tornaram a missão ainda mais árdua. No barco, a cautela foi redobrada para preservar a dignidade do ator. “Minha maior preocupação era evitar que a imagem dele vazasse, que algo desrespeitasse a memória de quem ele foi. Por isso, tomei todo o cuidado para garantir que o Brasil guardasse a imagem do Domingos sorrindo, como sempre o vimos”, ressaltou.

Sinério não apenas mergulhou no rio naquele dia – mergulhou também nas profundezas de sua própria humanidade. “Foi como resgatar um irmão”, confessou. Além do bombeiro experiente, havia ali um homem que entendia o peso da dor e a importância do respeito ao outro.

O tenente também recorda os momentos em que, anos antes, conheceu Domingos Montagner durante as gravações de Cordel Encantado, quando trabalhou na segurança das cenas aquáticas. “Ele era uma pessoa incrível, um cara que gostava de conversar, um artista que representava os nordestinos”, descreveu.

Mais do que um resgate técnico, aquele episódio se tornou uma lição de amor e empatia. Para Sinério, que também se dedica a trabalhos sociais como palhaço em festas infantis e eventos beneficentes, a missão de levar alegria ao próximo não termina quando a farda é pendurada no armário. “O sorriso transforma. Mesmo em meio à tristeza, temos que levar esperança às pessoas, porque o amor é o que realmente faz a diferença”, evidenciou.

Hoje, ao olhar para trás, o tenente Sinério não esquece as águas do São Francisco, as dificuldades daquele dia e, principalmente, o sorriso de Domingos Montagner. “Ele nos ensinou, mesmo em sua partida, o valor da arte, da alegria e da conexão com o outro. Minha missão foi devolver o corpo dele com dignidade. Mas o que levo comigo é a certeza de que ele cumpriu lindamente seu papel aqui na Terra”, concluiu.

 

Fonte e foto SSP

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